sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

MOSAICO PRIMEVO-POEMIA-UM ENIGMA SIMPLES DE TRADUZIR NOSSOS SENTIMENTOS MAIS RECÕNDITOS


Conheci, Abílio Pacheco, através da Antologia Literária CIDADE. Seu livro Mosaico Primevo-Poemia ocupa lugar de destaque em minha estante, em meio a tantas outras obras, que me alimentam no dia a dia das minhas leituras e releituras.


Não gosto de julgar textos nem obras de um autor, mas nos textos do Abílio percebi que ele tem uma especificidade de dizer, de contar, de relatar de maneira que nos envolve de forma inconsciente, inebria nossos sentidos, afinal como ele próprio diz, leitor e autor podem entrar em transe no processo do ré e do autoconhecimento.


O autor é Baiano, mas diria que é um brasileiro de todas as plagas, UM CIDADÃO DO MUNDO Talvez o livro tente dizer o que seria a poética,talvez um relógio lento, ou a rua escura pálida uma mulher chorando no acaso. Mesmo poetando Abílio Não deixa de ser cronista, mesmo fazendo crônicas ele na verdade está falando de poética...


Sua poêmica abre as estranhas da vida para abrigar todos os personagens da noite, do dia, do acaso e é escrevendo com uma certa áurea mística que sem hermetismo o autor conta, mas suas histórias se voltam a nós(leitores), porque se a vida imita a arte, Abílio traduz a vida através da indefinição..porque palavras formam jogos lúdicos e a poesia deve ser um jogo, não de adivinhação, mas de cumplicidade.A meu amigo visível desejo que trilhe todos os caminhos possíveis,com sucesso nas letras.

A beleza está no inexplicável, porque o texto por si só ganha o mundo as ruas, os becos, as esquinas. O texto a essência da criação perde seu ponto de partida .Abílio bebe na noite o néctar dos sonhadores, sejam eles poetas, bêbados ou parias...

Prometi que não iria fazer definição de nada, apenas tentei repassar o que penso ser a verdadeira essência do poeta cronista.

Não existe esse negócio de poeta menor, nem poeta maior, existe o desejo de falar, de colocar no papel os sentimentos que podem discernir o real sentido da vida ou não. Poeta rotulador deveria trabalhar numa fábrica de de embalagens .O poeta é um legista da alma, dos corações, nada mais do que isso,o resto é armazèm de secos e molhados como sempre dizia o grande Ziraldo.

ABÍLIO está sempre em Reconstrução porque o poeta crônico em sua crônica conta e reconta... Não é preciso dizer mais nada./sua versatilidade diz em poucas palavras” Na tarde quente de sol, areia, barro, pedra,tênue terra tenra,ocas cores,curas,duro muro,nu”...

ANTOLOGIA LITERÁRIA CIDADE: O BRASIL EM PROSA E VERSO


Com muita honra, recebi a boa noticia que estava incluido na Antologia Literária CIDADE, Volume II. O livro foi coordenado pelos escritores Abílio Pacheco e Deurilene Souza. O livro de indiscutível beleza e qualidade contem 70 textos em prosa e verso (Poemas, contos e crônicas)reunindo escritores de São Paulo(11),10 do Pará, sendo sete na capital e três no interior,no qual me incluo representando Itaituba.

O grande mérito da obra é que foi quebrado um tabu, de pela primeira vez sair uma publicação em nível nacional, fora do eixo Rio/São Paulo. São autores novos, outros mais vividos, alguns publicados outros não, mas isso não tem tanta relevância levando-se em conta a criatividade, o excelente conteúdo da obra como um todo.
Abílio Pacheco tem mestrado em literatura pela UFPA, e com Deurilene conseguiu quebrar o paradigma que no Brasil a poesia está inacessível, tem pouca coisa publicada. A experiência do primeiro Volume, agora o segundo e com certeza teremos o III, demonstra que antologia além de valorizar o escritor ainda não consagrado, acaba tornando ma vitrine em face da circulação do livro em todas as cidades de origem dos autores.

Quanto a mim dos exemplares enviados fiz bom encaminhamento a Academia de Letras de Itaituba, Biblioteca Pública Municipal e naturalmente guardei meus exemplares de arquivo pela relíquia cultural da obra. Participei com três poemas, Holocaustificação, Vício e Anjo em Transição. È um livro de grande valor, os coordenadores além de prestarem serviço a cultura, estão estimulando a produção literária para que outros autores possam tirar das gavetas o sonho de ver seus textos lidos numa maior amplitude. Saudações poeticas ao Abilio e a todos os heróis da resistência literária deste pais. Nazareno Santos

BRAGABÁ, UMA CRÕNICA


Bragança: Marabá é uma cidade submersa cuja imagem vítrea permanece no
côncavo de meu cristalino de vinte e sete anos. E de onde emerge a pérola do Caeté tal
qual a Mesopotâmia de meia década. Se me não canso de emparelhá-las é por ser uma a
matriz intacta de que fala Ítalo Calvino e a outra a que nasce e traz à tona a primeira. E
assim passei três semanas em Bragabá.

Dez minutos de caminhada rodeado por silêncios: passos rápidos em pisos
irregulares, tempo quente, vento brando, calor gostoso de sol de sete e meia da manhã.
A torre da telepará marcando o caminho: inerte. Próxima, inalcançável; riscando azul e
algodonévoas. UFPA descalçada, poeira e pó da entrada (sem pórtico) até a sala de aula.
Camaleões nas árvores cagando e caindo sobre cadernos e alunos. Prédio ad aeternum
em construção e Letras buscando espaço...

Mulheres nas portas, homens nas ruas, velhos nas calçadas, motos e motos,
bicicletas... crianças correndo, jogando bola, rindo de nada e de tudo. Praça e praça:
mini-bugs, pipoca, sanduíches. Praça, igreja, orla e rio. Praça: lazer. Praça: trabalho.
Praça: orla, bares, bares e barracas de tacacá.

Ontem a polícia prendeu um bandido: puseram no carro com vidro sem fumê e
na frente batedores em businaços. Disseram-me (eu me ouvi dizendo para mim) que
aqui isso é comum. A população petrificada se recongela idêntica a outra jazente na
retina fatigada. E explodem apupos e aplausos desmanchando-se como as estátuas
fossilizadas (na memória).

Ontem deram-me uma carona. Passaram nas bordas da feira. Um bêbado, ou
doido, ou apenas um transeunte distraído. Aos meus ouvidos e de meu olvido: busina e
palavras, mas o homem apenas adeja até a borda da rua.
Ontem!?
Abílio Pacheco