terça-feira, 26 de abril de 2011

Mulheres

Mulheres

Como as mulheres são lindas!
Inútil pensar que é do vestido...
E depois não há só as bonitas:
Há também as simpáticas.
E as feias, certas feias em cujos olhos vejo isto:
Uma menininha que é batida e pisada e nunca sai da cozinha.

Como deve ser bom gostar de uma feia!
O meu amor porém não tem bondade alguma.
É fraco! Fraco!
Meu Deus, eu amo como as criancinhas...

És linda como uma história da carochinha...
E eu preciso de ti como precisava de mamãe e papai
(No tempo em que pensava que os ladrões moravam no morro atrás de casa e tinham cara de pau)


O Poeta se superou nessa homenagem as mulheres que também afianço ser meu ponto fraco ou talvez o calcanhar de Aquiles da mais resistente criatura humana

O BICHO



VI ONTEM um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.

Manuel Bandeira

A ALMA É QUE ESTRAGA O AMOR

Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus - ou fora do mundo.

As almas são incomunicáveis.

Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.

Porque os corpos se entendem, mas as almas não

POLÍTICA DE LEITURA NA ESCOLA.

Estou desenvolvendo atividades de leituras para alunos(as) de 5ª e 6ª séries na Escola Aguia do Saber. A principio encontrei resistências talvez resquícios das opiniões formadas de que brasileiro não gosta de lê e outras frases feitas que acabam de fato estigmatizando a relação professor/aluno nessa questão do hábito de ler.

Nesta sexta feira dia 29 estarei promovendo atividades em alusão ao dia Nacional do Livro Infantil que foi criada em Homenagem ao escritor Paulista Monteiro Lobato autor do Sítio do Pica Pau Amarelo que virou famosa série exibido na rede globo durante muitos anos.

Não pretendo reiventar a roda, mas consegui alguns avanços com os alunos antes rotulados como avessos a livros. Se algum professor estiver enfrentando resistência no processo de trabalhar com o ensino fundamental no quesito leitura posso passar algumas dicas, alias gostaria de trocar idéias sobre metodologias...Meu telefone(93)81194020 0u E-meio Tribunna@hotmail.com



domingo, 24 de abril de 2011

De poetas para poetas

De poetas para poetas
Homenagem de Carlos Drummond de Andrade a Federico
García Lorca

Sobre teu corpo, que há dez anos
se vem transfundindo em cravos
se rubra cor espanhola,
aqui estou para depositar
vergonha e lágrimas.

Vergonha de há tanto tempo
viveres – se morte é vida –
sob chão onde esporas tinem
e calcam a mais fina grama
e o pensamento mais fino
de amor, de justiça e paz.

Lágrimas de noturno orvalho,
não de mágoa desiludida,
lágrimas que tão-só destilam
desejo e ânsia e certeza
de que o dia amanhecerá.

(Amanhecerá)

Esse claro dia espanhol,
composto na treva de hoje,
sobre teu túmulo há de abrir-se,
mostrando gloriosamente
-ao canto multiplicado
de guitarra, gitano e galo –
que para sempre viverão
os poetas matirizados.


(Carlos Drummond de Andrade; poesia e prosa Nova Aguilar -1979 - pp. 253-4)

Homenagem de Murilo Mendes a Bertolt Brecht

Quem levantou no espaço as Pirâmides, quem construiu vermelha Tebas de cem portas? Certamente, não os reis: estes não carrega-vam pedras.

Quem sabe os nomes dos mestres-de-obra, dos engenheiros, dos pedreiros que ergueram o Coliseu, os jardins suspensos de Babilônia, Nova Iorque?
Quanto ganhavam por dia os operários dessas moles espantosas? E
quantos eram ao todo? Nenhuma lente os descobre, nenhuma téssera ou lápide os registra.
Ä
Ele quis levantar no teatro o epos do nosso tempo totalitário. Alguns se perguntam: ficará seu nome?
Ä
Destruir o muro de Berlim, sigla de mil outros muros. Destruir o muro de Belim, levantando com o tributo de palavras, crimes e atos absurdos de todos nós.

Construir o espaço sem muralhas nem faraós e césares de camisa preta ou parda. Com siglas de bandeiras decorativas marcando a terra de um e de todos, a terra da paz, do grão e do vinho reconstituídos no seu contexto livre de censuras.

(Murilo Mendes; poesia completa e prosa Nova Aguilar - 1994 - p. 1.240)

Homenagem de Murilo Mendes a René Char

René Char na sua casa parisiense da Rue de Chanaleilles onde Ale-xis de Tocqueville mostra-me desenhos e quadro de Braque, Giacometti, Brauner e Nicolas de Staël.

Desenrola o diploma de louvor ao Capitaine Alexandre (seu nome de guerra) herói da descida em pára-quedas na áfrica do Norte, durante a
Segunda Guerra Mundial, após dois anos de maquis; diploma ilustrado nas margens por Miro, mais tarde.

Tira da gaveta outro documento, uma carta assinada por vinte se seus antigos comandados: “Capitaine Alexandr, vous avez fait de nous des hommes”.
Assim tornados à época de Fureur et mystère que contém um dos textos capitais da poesia francesa contemporânea: “Les Feuillets d'Hypnos”.

Quando a Resistência era o fulcro da vida de muitos. Quando poesia e ação
direta andavam de mãos dadas. Quando o nome liberdade era feérico.
Quando se punha em marcha a inteligência “sans le secours des cartes d'état-major”.
Ä
Este homem que inventou o sol das águas não descobriu ainda o sol da sombra. Detesta, por exemplo, Michaux.

Solar, solerte, soletra o sol de Heráclito.

Apesar dos tangentes Mozart, Braque, Van Eyck, Georges de La Tour,
Beaujolais, às vezes parece-me terrivelmente distante de mim. Mas não se-
rei distante de mim próprio?
Ä
A neve cai sobre o solar de René Char desde que retalharam o solar de Névons
em L'Isle-sur-Sorgue onde ele nasceu provençal onde aprendeu o sol onde
aprendeu o sal onde o prendeu o sal.
Em Névons on jouait dès nouveau-nés
on aimait on névonnait le soleil y neigeait.

A neve cai sobre o carro-de-apolo de René Char que joga pólo com Artine
no ar de René char nascido para o ar para amar para armar para desamar
para desarmar para poetar para putear para libertar para Mozart para
terrevoar para o mar para o sol para o ar.

(Murilo Mendes; poesia completa e prosa Nova Aguilar - 1994 - pp. 1.240-1)

Reencontrei esses textos nos meus baus de leitura...resolvi postar aqui no Rio das letras para deleite de todos...

Dossiê Maiakovski

UM TOQUE DE BALALAICA PARA MAIAKOVSKI poeta da voz e
do gesto

Edilene Dias Matos

A Boris Schnaiderman, naturalmente.

Acima das cruzes e dos topos, Arcanjo sólido, pas

so firme,
Batizado a fumaça e a fogo –
Salve, pelos séculos, Vladimir!

Marina Tzvietáieva

Vladimir Vladimirovich Maiakovski nasceu sob o signo de câncer no dia 7 de julho de 1893 na aldeia de Bagdadi, situada nos arredores da cidade de Kutaisi, cujas antigas edificações se refletiam nas águas do rio Khanis-Tshali. Foi ali na Geórgia que ele deu seu primeiro grito, prenúncio dos vários brados estrondosos que daria ao longo da vida. Mais tarde, quando já vivia na cidade grande, Maiakovski, que fora um montanhês caucasiano, decidiu usar como único traje uma blusa de cor amarela, símbolo do sol e de sua Geórgia, tradicionalmente usada pelos camponeses russos. Ela então passou a ser uma marca do poeta até se converter numa espécie de traje ritual e constituir uma extensão de seu próprio corpo. Ao exibir-se com esse traje, Maiakovski buscava pôr em evidência sua nobre modéstia e sua distinção em relação às vestimentas convencionais:

Do veludo da minha voz
Vou mandar fazer minhas calças pretas.
De três metros de meio-dia, uma blusa amarela.1

Marcas profundas, oriundas do trato íntimo com a vida camponesa, ficaram para sempre incrustradas em seu ser, mesmo depois de ele ter se tornado um poeta tipicamente urbano, freqüentador assíduo do Café dos Poetas, seu refúgio predileto, além de reduto dos cubo-futuristas (Khliébnikov, Burliuk, Kamiênski, Krutchônikh, entre outros).
Maiakovski participou do grupo cubo-futurista, que editou o almanaque Armadilha para juízes (1910) e lançou “Bofetada no gosto público” (1912), uma espécie de manifesto destinado a combater o chamado ego-futurismo, criado por Ígor Sievieriánin e considerado um futurismo de salão.

Nesse espaço efervescente, ele pregou a destruição da palavra e da forma convencionais, da sociedade e da cultura.
Vale a pena abrir aqui um parêntese para explicar a relação do futurismo de Marinetti com o futurismo russo. É bem provável que as inspirações primeiras tenham advindo da Itália, e não há como negar a difusão dos mais diversos ecos da vanguarda italiana entre a intelectualidade moscovita dos primeiros anos do século XX, mas o movimento liderado por Marinetti teve suas especificidades na Rússia, onde se deu a cisão entre ego-futurismo e cubo-futurismo.

Sob o rótulo de ego-futuristas concentrava-se um grupo de intelectuais que via nas idéias estéticas vindas da Itália um meio fácil de chamar a atenção, sem, no entanto, contrariar o gosto da burguesia. Por outro lado, o grupo que aderiu ao cubo-futurismo objetivava levar às últimas conseqüências as idéias do polêmico artista italiano.


Pode-se afirmar que os adeptos do cubo-futurismo na Rússia traçaram rumos próprios e distanciaram-se de Marinetti, tendo inclusive negado veementemente seus propósitos, sobretudo aquele que toca num problema de base: o emprego de uma linguagem emotiva e não-poética.
A partir de sua adesão ao cubo-futurismo, Maiakovski viverá seu grande drama: poesia para o povo ou inovações e ousadias futuristas? Como conciliar a poesia para o povo com as formas expressivas, requintadas, intelectualizadas do futurismo? Comeria a massa do biscoito fino?


O dilema de Maiakovski teve relação direta e efetiva com as críticas que apontavam o descompasso existente entre suas metáforas ousadas/instigantes/intrigantes e uma linguagem mais despojada, capaz de conquistar efetivamente o coração do povo. Nesse sentido, o combate/crítica dirigido ao poeta era dos mais virulentos. Críticos e polemistas não entendiam o posicionamento do poeta em relação ao fazer poético. Não entendiam como os operários e os camponeses poderiam chegar à compreensão de certos versos do poeta, como por exemplo estes, de seu poema “Incompreensível para as massas”:

E para a massa
flutuam
dádivas de letrados –
lírios,
delírios,
trinos dulcificados.

Considerado um talento artístico incomum (poesia, pintura, cinema, teatro, publicidade, jornal), Maiakovski foi alertado por David Burliuk - em cujo estúdio ensaiava alguns desenhos - no tocante à sua excelência como poeta e decidiu-se pela poesia. Era na poesia que estava a sua genialidade, afirmara o amigo Burliuk com convicção após ter tido a oportunidade de ler algumas de suas primeiras composições poéticas (“Tenho diante de mim um poeta genial”). Burliuk se tornará uma espécie de anjo –da guarda do poeta, protegendo-o sempre, a ponto de oferecer-lhe ajuda financeira para que pudesse dedicar-se exclusivamente ao trabalho poético.


Em 1912, com 19 anos, Maiakovski publicou seu primeiro poema, “Noite”. A partir daí, ele tornou-se um poeta marcado pelo sinete da rebeldia exacerbada e desmedida. Apoiou sua vida no tripé Poesia, Amor e Revolução – a revolução se fez poesia e o amor se converteu em revolução.

Como diretriz artística, o poeta optou pela vanguarda, que se bifurcaria em vanguarda formal e vanguarda revolucionária. Em sua poesia, vida e obra acabaram por se interpenetrar. Segundo Fernando Peixoto, Maiakovski conseguiu uma união orgânica e concreta de seus sentimentos pessoais com o coletivo de grande complexidade do contexto russo-soviético.
Para ele, o amor era pura fonte de poesia, e falar de amor era falar de Lili Brik, que era mulher de Óssip Brik, outro grande intelectual, e foi a grande musa de sua vida2 .

Afora o teu amor
Para mim
Não há mar,
E a dor do teu amor nem a lágrima alivia
[...]
Afora o teu amor,
Para mim
Não há sol,
E eu não sei onde estás e com quem.
[...]
Afora o teu olhar
Nenhuma lâmina me atrai com seu brilho.

Leitor voraz e atento, Maiakovski ficou de início impressionado com dois autores, Puskin e Blok, e releu sobretudo Blok, cujo simbolismo viria a ser estimulante para o desenfrear da imaginação do jovem poeta. Leu filósofos, físicos, novelistas e poetas, como Hegel, Marx, Lassale, Demóstenes, Júlio Verne, Wells, Tolstoi, Dostoievski, Biéli, Balmont, Shakespeare, Byron.
Fascinado com a teoria geral de Einstein sobre o princípio físico da relatividade, lançou olhares de cobiça em direção à ciência, que para ele explicaria muitos mistérios ainda envoltos em nebulosidades. Segundo seu entendimento, essa teoria teria por meta final a superação da morte pelo homem.


Como Maiakovski se considerava um trovador (“continuo a tradição interrompida dos trovadores e menestréis”), não se pode pensar sua poesia como destinada a ser lida apenas em silêncio. Ela requer, antes de tudo, um forte grito, um prolongado som de balalaica. Além do acento marcante de oralidade, sua poesia supõe intensa participação do corpo, o que por sua vez envolve a variação dos tons de voz, a estruturação melódica e até mesmo a gesticulação, notadamente das mãos, além de meneios de cabeça, curvaturas do tronco e do corpo como um todo, compondo uma verdadeira encenação performática.

Os registros conhecidos das performances do poeta revelam-no um ator hábil, que dava espetáculos de recitação, atuava em comícios e tinha um público ávido e certo na Rússia das duas primeiras décadas do século XX.
Vladimir causava fascinação nos auditórios, a começar por seu porte - alto e másculo -, que sobressaía ainda mais em função de suas veementes gesticulações e do timbre estentóreo de sua voz. Cada aparição sua, ao mesmo tempo um martírio e um êxtase, era por si mesma todo um espetáculo. De temperamento dramático, não foi por acaso que Maiakovski-ator-espetáculo se viu envolvido (e apaixonado) pelas artes cênicas – circo, teatro, cinema.


Introduzido no mundo circense pelo palhaço Lazarenko, viveu momentos de intensa atividade criativa quando escreveu pantomimas e peças cômicas para serem interpretadas pelo companheiro palhaço. Esse convívio e essa experiência redundaram no espetáculo circense “Moscou incendiado”, escrito e dirigido pelo poeta em 1927.

Militante clandestino do partido bolchevique, em 1914 Maiakovski envidou esforços para a criação de uma arte cinematogáfica legitimamente russa, pois considerava o cinema “quase uma concepção do universo”, expressão do movimento, veículo inovador da literatura e destruidor de estéticas obsoletas, além de difusor de idéias revolucionárias e vanguardistas. Ressalte-se aqui que a princípio, o poeta não incluía o cinema no mundo das artes por considerá-lo apenas um reprodutor de imagens.

Outra particularidade do gênio criador de Maiakovski foi o teatro, espaço onde deixou profundas marcas ao converter dramas íntimos em espetáculo. Como exemplo, é suficiente citar “Mistério Bufo” (1918), considerado o início de um novo teatro. Nessa peça, preparada para comemorar o 1º aniversário da Revolução de 1917, Maiakovski insere o mundo no espaço de um circo. Intercalando números circenses e de musical-hall, escancara o choque de classes e o conflito ideológico ao relatar a viagem alegre de um grupo de operários que, depois do dilúvio revolucionário, se liberta de seus opressores parasitas e chega à terra prometida, após ter passado pelo inferno e pelo paraíso. Com essa obra, que teve grande repercussão na época e se tornou assunto de discussões palpitantes e controvertidas, Maiakovski conseguiu imprimir uma marca verdadeiramente popular ao refinado e intelectual teatro futurista.

Revolucionário militante, personagem brilhante e excêntrico do futurismo soviético, o inquieto artista esteve sempre às voltas com aventuras estéticas e toda sorte de provocações. Como poeta, submeteu a língua a estímulos inovadores e, consciente de sua missão, conduziu o verso até o limite extremo da expressividade. Além disso, subverteu normas obsoletas, violentou os versos bem-comportados, virando de cabeça para baixo as técnicas já consagradas, e, fazendo uso de recursos e estratégias revolucionárias, explorou exaustivamente as potencialidades expressivo-comunicativas da palavra. Explicava seu fazer poético pela simplificação excessiva e pelo jogo reflexivo.

Ele resumia seu pensamento da seguinte forma: “Eu não forneço nenhuma regra para que uma pessoa se torne poeta e escreva versos. E, em geral, tais regras não existem. Chama-se poeta justamente o homem que cria estas regras poéticas”.

Eu
à poesia
só permito uma forma:
concisão,
precisão das fórmulas
matemáticas...

Suas plurais vozes poéticas tinham um ponto comum: o homem inconformado diante das chagas abertas por uma sociedade injusta:

Come ananás, mastiga perdiz.
Teu dia está prestes, burguês.

Inconformado e criador, Maiakovski escolheu a tribuna como campo de luta:

Barreira alguma há de calar meu ímpeto,
nem os muros do Krêmlin, quadrimultiplicados.
Do asfalto, em turbilhão, vôo e vulnero tímpanos
Com o fragor fogoso dos meus brados.

Ele falou e bradou. E seu brado forte e poderoso ainda ecoa:“Mas a força do poeta/não se reduz só/a que te lembrem/no futuro/entre soluços”, pois Vladimir Vladimirovitch Maiakovski sabia muito bem da eficácia da “palavra cantada” pronunciada pelo poeta. Sabia que essa “palavra” afetaria a realidade, tornando-o o construtor de um mundo novo, de uma sociedade igualitária, fruto do poder revolucionário e transformador da linguagem poética.
Ao fazer da poesia uma arma de combate autêntica, verbo explosivo e revolucionário, ele conferiu à palavra poética uma significação toda especial, recusando o panfleto pelo panfleto e buscando sempre os tons de uma poesia maior.
São estas as constantes simbólicas de que se compõe a mitologia de Maiakovski: o ardor juvenil, a ousadia, a paixão pelas causas políticas e sociais, a luta por meio da poesia contra o opressor e pela libertação do oprimido, o amor como fator de liberdade, a beleza máscula do poeta, arauto da revolução, envolvida pela blusa amarela. Tais constantes não são meros artificialismos nem tampouco traços biográficos sem maior importância, mas vozes tonitruantes que ecoam no corpo vibrante de sua obra poética, feita de metáforas faiscantes, jogos de palavras, expressões iluminadoras e contundentes e esculpida pelos sons da voz, pelos grafos da escritura, pela cenografia do verbo, pelos gestos performáticos.

Uma obra que foi esculpida por punhais de afiadas lâminas, que se metamorfoseiam em palavras ao mesmo tempo cortantes e iluminadoras, palavras que ferem, que comovem, que apontam caminhos, que semeiam utopias. Palavras que se estilhaçam em múltiplas faíscas e que, paradoxalmente, ofuscam e orientam nosso olhar.
O pano desce. 10 horas da manhã de 14 de abril de 1930. O cenário é o pequeno estúdio, e o revólver espanhol talvez seja o que foi utilizado na interpretação do papel de Ivan Nov, o poeta vagabundo, personagem principal do filme “Mas não por dinheiro”. Conforme já havia anunciado (era vidente?), Maiakosvki (“Penso, mais de uma vez:/Seria melhor talvez/Pôr-me o ponto final de um balaço./Em todo caso/Eu hoje vou dar meu concerto de adeus.) puxa o gatilho.

Misto de sangue, paixão e lenda, Maiakovski passa a existir em seus poemas, já que exigia ele próprio que a arte fosse vida, vida tantas vezes exaltada por seu primado em relação à arte. Abaixo a arte, viva a vida!

DE “V INTERNACIONAL”

Eu
à poesia
só permito uma forma:
concisão,
precisão das fórmulas
matemáticas.
Às parlengas poéticas estou acostumado,
eu ainda falo versos e não fatos.
Porém
se eu falo
“A”
este “a”
é uma trombeta-alarma para a Humanidade.
Se eu falo
“B”
é uma nova bomba na batalha do homem.

1922
(Poemas - Vladímir Maiakóvski. Trad. Augusto de
Campos. Tempo Brasileiro, 1967, p. 79)

ESCÁRNIOS

Desatarei a fantasia em cauda de pavão num ciclo matizes, entregarei a alma ao poder do exame das rimas imprevistas.
Ânsia de ouvir novo como me calarão das colunas das revistas esses
que sob a árvore nutriz es-
cavam com seus focinhos as raízes.

1916
(Poemas - Vladímir Maiakóvski. Trad. Augusto de Campos e Boris Schnaiderman. Tempo Brasileiro, 1967, p. 73)

NOSSA MARCHA

Troa na praça o tumulto!
Altivos pincaros - testas!
Águas de um novo dilúvio
lavando os confins da terra.

Touro mouro dos meus dias.
Lenta carreta dos anos.
Deus? Adeus. Uma corrida.
Coação? Tambor rufando.

Que metal será mais santo?
Balas-vespas nos atingem?
Nosso arsenal é o canto.
Metal? São timbres que tinem.

Desdobra olençol dos dias
cama verde, campo escampo.
Arco-iris arcoirisa
o corcel veloz do tempo.

O céu tem tédio de estrelas!
Sem ele, tecemos hinos.
Ursa-Maior, anda, ordena
para nós um céu de vovos.

Bebe e celebra! Desata
nas veias a primavera!
Coração, bate a combate!
O peito - bronze de guerra.

(Poemas - Vladímir Maiakóvski. Trad. Haroldo de Campos. Tempo Brasileiro, 1967, pp. 77-8)

BIBLIOGRAFIA

A LENDA DO CABEÇA DE CUIA

Pedro Costa o autor do folheto registra de uma maneira singela mas bem oportuna histórias que retratam nossas crendices ou superstições populares.Vamos a um trecho" O povo não acredita
Em história de pescador
De vaqueiro, e cachaceiro
De poeta cantador.Motorista e Seringueiro
Marinheiro e caçador,

Dizem que toda mentira deturpa sempre a verdade
Por menos que ela seja
Dita na sociedade
Contada por muita gente
Se torna realidade
Cabeça de Cuia vive
Cumprindo sua trajetória
Uma velha diz que viu
Porém perdeu a memória
Se assombrou ficou louca
Quando escuta essa história.

Contatos com o autor para(86)3236-8620

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Aprovado Plano Nacional de Cultura.

A Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE) aprovou em decisão terminativa o Projeto de Lei da Câmara (PLC) 56/10, que institui o Plano Nacional de Cultura. O plano, que será agora submetido à sanção presidencial, regulamenta o financiamento da cultura, estabelece as atribuições do poder público no setor e enumera princípios a serem observados, como a liberdade de expressão, a diversidade cultural e o direito de todos à arte e à cultura.

- Trata-se de um marco legal da cultura brasileira, que estabelece uma política de Estado para o setor cultural - disse o assessor parlamentar do Ministério da Cultura, Paulo Brum, que acompanhou a votação do projeto e lembrou que o plano foi elaborado após quatro anos de debates, nos quais participaram mais de 40 mil pessoas em todo o país.

Ao apresentar seu voto favorável, a relatora do projeto, senadora Marisa Serrano (PSDB-MS), classificou o plano como "uma espécie de agenda para a atuação do setor público" na área de cultura ao longo dos próximos 10 anos, período de validade do plano. Um dos principais objetivos da proposta, ressaltou, é o de "universalizar o alcance dos brasileiros à arte e à cultura, assim como qualificar ambientes e equipamentos culturais para formação e fruição do público". Ela elogiou ainda as ações previstas para a "consolidação da economia da cultura".

A comissão aprovou também parecer favorável a uma emenda da Câmara dos Deputados ao Projeto de Lei do Senado (PLS) 237/07, que inscreve o nome de Anita Garibaldi no Livro dos Heróis da Pátria. A relatora da emenda foi a senadora Níura Demarchi (PSDB-SC), que ressaltou o papel exercido por Anita na Revolução Farroupilha. A emenda da Câmara apenas retira do projeto o seu parágrafo único, segundo o qual a inscrição do nome de Anita no Livro dos Heróis se daria em 4 de agosto de 2009. (Senado Federal)

CIÚMES

Restos de Maria
Com o lixo na lata
O amor doentio
é o bicho que mata

Sérgio Luiz-Porto Alegre

O OLHAR

O olhar é o que assusta e me encanta
É o que me acolhe e me afasta de mim e do outro
Tão simples e tão marcante
Perc0-me no brilho e no símbolo que se expressa
O que dizer de mim, se o que sou ultrapassa meu próprio espaço?
O que dizer de mim se o olhar do outro me diz quem sou?
Dentro dessa enorme dimensão pretendo descobrir...

Fernanda bião. A autora é acadêmica de Psicologia da pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.

FIOS DE MEADA, PARA CONTAR E RECONTAR


Hoje dia 22 de abril uma Sexta Feira Santa (um dia após esquartejarem Tiradentes), como todo bom caboclo amazônida armo minha rede e embaixo coloco meu arsenal de conhecimentos, que vou digerindo avidamente com os olhos e o coração, pela paixão da leitura, uma doença crônica saudável que me acomete desde os meus primeiros passos na escola...

Fios da meada são contos amazônicos recontados por Paulo Nunes, que no prelúdio do texto já questiona afinal de que fios se faz essa meada?. Li e reli, devorei os contos como se devora um Tambaqui assado feito moqueca depois de embrulhado em folha de bananeiras...

O autor faz o que nosso pais, nossos avós fazia quando eramos crianças. Peguei alguns pedaços para postar aqui no Rio das letras.Vamos digerir juntos?"A noite, Antônio ficava tão flador quanto de dia era calado.Se enchia de imaginações.- Anda, Antônico, a estória da ave jurutaí, incitava Libânia
-A que se que apaixonou pela lua?.O jurutaí solta hoje pelo mato cada risada.Variou com a paixão.E a lua, lá de cima nem como coisa.
de peito pra cima, Antônio, os olhinhos luzindo na sombra,ia contando do jurutaí, o pássaro da noite, e sua paixão pela lua.Libânia deityada de lado, escutava..

Paulo quando reconta o mestre Dalcídio Jurandir se chega dá água na boca, vontade de comer as palavras que transitam entre nossa imaginação...O povo conta e o escritor reconta. "E dentro do peito de Siloca se abre uma visão dantesca, apesar de tudo truvo, ela surge feito uma miragem, fêmea(muié mermo de verdade, sem tirar nem por)quer dizer ua mulher com corpo de sereia, ela me acenava se insinuando por entre os Mururés. E Mumurés eram espalhos d água?.Não sei só sei que ela se exibia mergulhando nas águas límpidas do m eu Tapajós,e mergulahava e voltava à flor d água num tichi bum tichibum...E se estiver mentindo seu moço pergunte pra Matinta Pereira, ela também espiava tudo de bubuia..."

quinta-feira, 21 de abril de 2011

INSÔNIA E POÉTICA


Enquanto todos dormem, guardo meus sonhos entre as palavras em vão
Não sei se a noite passa célere como o pulsar do meu coração
Mas entre a insônia e a solidão
Há um relógio mudo
Rebelde que ignora o tempo

Meus versos não são intimos
Nem me importo com os vermes que me espreitam
O que me importa são os anjos tortos que me guardam
E os fantasmas da razão
Que junto comigo se deleitam

A poesia pode ser uma morfina as dores
Inconscientes da alma
Um lenitivo aos amores
que Não existem mais
Só sei que a vida
é inconstante
e no meu instante o tempo já não passa mais

A madrugada vem rompendo ofegante
Indiferente ao raiar do dia
E enquanto todos dormem
Eu sonho
Na plenitude abissal
de minha utopia.

Nazareno Santos- Poema composto ao acaso..



FERNANDO EM PESSOA, NO RIO DAS LETRAS

"O Poeta é um fingidor. Finge tão completamente que chega a fingir que é dor a dor que deveras sente".

Fernando Pessoa- Poeta Português

VOCÊ JÁ COMETEU MICOS GRAMATICAIS? TIRE SUAS DÚVIDAS


Micos de grafia
EQUÍVOCOCORREÇÃO
AdvinharAdivinhar
AscençãoAscensão
ApropiadoApropriado
BeneficienteBeneficente
DistoarDestoar
ExcessãoExceção
EncapuçadoEncapuzado
FrustadoFrustrado
FlagrânciaFragrância
ImpecilhoEmpecilho
ParalizarParalisar
PertubarPerturbar
PrevilégioPrivilégio
XuxuChuchu

Micos de concordância e regência
O PROBLEMAO EQUÍVOCOA CORREÇÃOA EXPLICAÇÃO
Fazer“Fazem” dez meses.“Faz” dez meses.Se “fazer”exprime tempo, é impessoal.
Haver“Houveram” muitos fatos.“Houve” muitos fatos.“Haver”, no sentido de “existir”, é invariável.
Ver/virSe eu “ver” você por aí…Se eu “vir” você por aí…A conjugação é: Se eu vir, revir, previr. Da mesma forma: Se eu vier (de vir), convier; se eu tiver (de ter), mantiver.
Existir“Existe” muitas crianças.“Existem” muitas crianças.“Existir”, “bastar”, “faltar”, “restar” e “sobrar” admitem normalmente o plural.
Mim/euPara “mim” fazer.Para “eu” fazer.“Mim” não faz, porque não pode ser sujeito.
EntreEntre “eu” e você.Entre “mim” e você.Depois de preposição, usa-se “mim” ou “ti”.
Redundância com “haver”“Há” dez anos “atrás”.“Há” dez anos / Dez anos “atrás”.“Há” e “atrás” indicam passado na frase.
PreferirPreferia ir “do que” ficar.Preferia ir “a” ficar.Prefere-se uma coisa a outra.
Chegar + preposiçãoChegou “em” São Paulo.Chegou “a” São Paulo.Verbos de movimento exigem “a”, e não “em”
Chegar + HaverChegou “a” duas horas e partirá daqui “há” cinco minutos.Chegou “há” duas horas e partirá daqui “a ” cinco minutos.“Há” indica passado e equivale a “faz”, enquanto “a” exprime distância ou tempo futuro (não pode ser substituído por faz).
ManterSe ele “manter” o acordo, teremos otimos resultados.Se ele mantiver o acordo, teremos otimos resultados.A conjugação é: Se eu/ele mantiver
ProporQuando eles “proporem” o valor…Quando eles propuserem o valor…A conjugação é: Se eu propuser etc.
ImplicarImplicou “em” três etapas.Implicou três etapas.No caso, “implicar” rejeita preposição.
MeioEla era meia louca.Ela era meio louca.“Meio”, advérbio, não varia.

Micos da semelhança
PROBLEMAEXPLICAÇÃO
DE ENCONTRO A
x
AO ENCONTRO DE
e encontro a = Contra.
Ao encontro de = Na direção de;
De acordo com.
AO INVÉS DE
x
EM VEZ DE
Ao invés de = Ao contrário
Em vez de = Em lugar de
DESCRIÇÃO x DISCRIÇÃODescrição = Ato de detalhar como algo é ou foi.
Discrição = Qualidade de discreto,
recatado e sensato
ESTADA X ESTADIAEstada = Ato de permanecer.
Estadia = Estada por tempo limitado.
ONDE X AONDE“Onde” = Em que lugar
“Aonde” = Para onde.

Micos que viram vício
  • Ambiguidade – Quando o sentido não fica claro, com enunciado com mais de um sentido: “O pai o filho adora” (quem adora quem?)
  • Cacofonia – Sequência de palavras que provoca som de uma expressão ridícula ou obscena: “Por razões de segurança”. “Por cada etapa, ganharemos muito”.
  • Plebeísmo – Uso de termos que demonstram falta de instrução ou variedade vocabular: “tipo assim”, “a nível de”, “meio que”, “enfim” (como interjeição), gerundismo (“vou estar planejando”).
  • Tautologia - Repetição desnecessária de ideia ou termo já enunciado: “critério pessoal”, “encarar de frente”, “planejar antecipadamente”, “criar novos empregos”, “acabamento final”.

Micos sintáticos
OCORRÊNCIAO PROBLEMA
Viajar anexoUsado no sentido de viajar “ao lado de alguém”.
Nunca “lhe” vi.O pronome lhe substitui a ele, a eles, a você e a vocês e por isso não pode ser usado com objeto direto: nunca o vi / não o convidei / a mulher o deixou / ela o ama.
“Aconteceu” muitos casos de reclamação de clientes. “Segue” os documentos necessários para o cadastro. “Fica” estabelecido as seguintes alterações.Na fala, o verbo anteposto ao sujeito nem sempre é assinalado. Por escrito, pega mal não fazer a concordância. Por isso: Aconteceram muitos casos… Seguem os documentos… Ficam estabelecidas
as seguintes alterações.

Micos do lugar-comum
Agenda positiva (Exame de um problema ou tentativa de acordo, em geral político, com base nos aspectos positivos da questão para os interessados.)
Agregar valor (Expressão vaga; algo como “juntar benefícios” – acabamento ou algo mais – a bem primário ou semiprimário.)
Aterrissar (Papéis e contratos na mesa). Tolice exagerada.
Atingir em cheio (Conseguir o objetivo plenamente, atingir o alvo, se concreto.)
Como um todo (O nome da coisa já é a coisa toda.)
Consumidor final (E o consumidor medial ou inicial?)
Continuar ainda (Por que o “ainda”?)
De braços cruzados (Em greve. Raras notícias sobre greve deixam de registrar, cansativamente, que os trabalhadores estão “de braços cruzados”.)
Detalhe importante e pequeno detalhe (Contradição: detalhe é insignificância; e redundância: detalhe já é pequeno.)
Em função de (Por causa de.)
Fazer uma colocação (Apartear, falar, perguntar, interpelar, discordar).
Sofrer (No sentido de “receber” e sinônimos: Sofrer aumento, sofrer manutenção, sofrer cuidados. Ninguém “sofre” tais coisas).