quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

TUA GRANDE COMPANHEIRA

ROSÂNGELA RODRIGUES

Eis que surge uma poetisa de mão cheia, de mão não, de alma repleta de inspirações sublimes...O blog Rio das letras revela com imensa alegria a poeta(ou poetisa) iTAITUBENSE que escreve com muita habilidade, digo profundidade...nesse poema Rosângela define a mulher em sua plenitude...Talvez um hino a liberdade delas...quem sabe?.

No Éden fui criada Posta ao teu lado para ser a sua amada Em teus braços ser tua inteira Tua grande companheira O tempo passou, E você não mais me amou O que aconteceu com teu amor? Me fez pequena Fiquei até digna de pena Um ser sem muito valor Nos teus braços que era amada,
Agora violentada,
Em fogueira fui jogada
Em troncos amarrada

Rejeitada e humilhada
Grande era o meu sofrer
Fui condenada a morrer
Mesmo sem merecer

O tempo passou,

Na história vivi dias de horror
Sucumbi de dor
Por que, por que você não me deu valor?

A luta fui, sem medo de morrer
Provei que também consigo vencer
Tanto quanto você
De operária a empresária,
Carpinteira, Engenheira
Juíza, General
Me fiz igual

Agora eu voto e opino,

Comando e Decido,
Você já não vê o meu pranto,
Porque o espanto?
Portanto,

Não posso ser anulada
É no meu ventre que a vida é gerada,
No meio seio amamentada

Mas não quero provar nada

Estamos juntos nessa caminhada
E nada faz sentindo
Se não estou contigo

Não importa o que passou

Tenho saudade do amor
Que no Éden ficou

Você se lembra para que eu fui criada?

Para ser a sua amada
Agora, me faça tua inteira
Ser-lhe-ei grande companheira

Rosângela Rodrigues

MAESTRO UIRAPURU

Só resta o beija
Não tem mais a flor
Ta tu pensando
Na maldade do homem
Que envenenou o rio
De mercúrio?

Eu juro...

Eu fico Jururu
Por não ver o maestro
Uirapuru
Em sua sinfonia encantando a floresta

O sapo não pula mais
Porque não tem mais brejo
O macaco arteiro não faz mais festa
Anda rés no chão, agora só
Porque na floresta não tem mais cipó
Não fica assim
Jacamim
Porque assim me dá dó

Amanhã
Jaçanã
Deverá ser um novo dia
Fala para a Paca
Que não vê mais rastro de cutia
Que amanhã
Jaçanã não deve haver utopia....
Bem-te vi
Na flor de laranjeira
Sábia
Cantando faceira
Alheia ao fogo
No roçado

Gritando em alerta
Corre anta
Te manda viado
Que o homem está vindo
Com foice, motossera e machado....

Obs-Esse poema é inédito e estará no meu próximo livro Versos Caboclos. Nazareno Santos







OUTRA DICA DE LEITURA- A CABANA


Esta história deve ser lida como se fosse uma oração, a melhor forma de oração, cheia de ternura, amor, transparência e surpresas. Se você tiver que escolher apenas um livro de ficção para ler este ano, leia A cabana.

O livro A Cabana, que foi publicado nos Estados Unidos por uma editora pequena, revelou-se um desses livros que, por meio da indicação dos leitores, se torna um sucesso de público: já são quase dois milhões de exemplares vendidos. Qual o segredo de tanto sucesso de um livro que aparentemente não tem nada de incomum?. Li e acho que a Cabana traz uma áurea mística profunda de fé, amor e esperanças. Mas é importante que você o leia com uma certa leveza de alma...

Você leu esse livro? Achou complexa a leitura, gostou, não gostou? Mande seu comentário com foto que postaremos aqui no Rio das letras.E-meio-Tribunna@hotmail.com


MAIS DICAS-NOSOSTROS IN USA

O livro fala de literatura, etnografia e geografias de resistência, editado por Jorge Zahar Editor, que tem como autora Sõnia Torres. A autora questiona, critica e se posiciona sobre as implicações da "Hispanização" de um pais tradicionalmente associado a cultura branca, anglo-saxã e protestante, focando que é nas narrativas literárias que sugere a origem da própria população de origem hispânica residente nos Estados Unidos.

Sõnia envereda pelos meandros literários buscando respostas para várias indagações, fundamentais, tão importantes nos tempos atuais de Globalização, questionando afinal de contas o que é essa globalização que só os etnógrafos nativos conseguem talvez assimilar e compreende-la....Uma boa dica de leitura, experimente você não vai mais largar o livro...(mande seus textos, seus comentários sobre literatura que publicaremos, seja um colunitsa online do Blog Rio das letras

DICAS DE LEITURAS:LIVROS PARA MARCAR SUA VIDA


Operação Cavalo de Tróia. Um documento é entregue a J.J.Benitez. E ele volta ao passado mil anos trás testemunhando os últimos dias de Jesus Cristo na terra, desde sua entrada em Jerusalém até sua prisão, julgamento e crucificação.

O livro tem em medía cada volume 510 páginas, que não se tornam cansativos porque a história é envolvente com mistério e suspense...

Mande para o Blog uma foto sua, e um relato, uma experiencia sobre um livro que lhe marcou em 2011. Pelo E-meio Tribunna@hotmail.com que com prazer publicaremos na íntegra

E VEIO JOAQUIM

Veio Joaquim
Que não veio por engano
Nem de Portugal
De sobrenome Caetano

Navegando pelo Tapajós
Se embrenhando no seringal
Fundou Itaituba
Pedra pequena e abundante
Em pele de maracajá
Ouro, castanha, borracha e Cumaru
Nome de batismo
Dado em um ritual do Munduruku

Depois vieram pessoas de todo torrão
Piauí, Paraná
Ceará e maranhão
Atrás de ouro e aventura
Que começou no rio das tropas
E Passou pelo Cuiu-Cuiu
Além de Joaquim

Brotou no cantochão
Nídia, Altamiro, Mendonça
Sebastião, Idolazi, Dona bela
Guardiãs de boas histórias
Anjos em trajetórias
No canto e encanto de um povo
E Itaituba se originou entre o velho e o novo
Entre o presente e o passado
Num sonho

Que ficou na memória
Como um baú da história
Para sempre...
eternizado

NAZARENO SANTOS-

EM HOMENAGEM AOS 155 ANOS DE iTAITUBA-

blog continua vivo

Fiquei ausente por uma longa temporada. Havia perdido a senha de acesso e revolvendo meus livros, encontrei dentro de A Sombra de Orfeu. A partir de então vamos postar com frequência em respeito e pelo carinho dos quase mil internautas com certeza amantes de uma boa leitura como eu...

LIVROS QUE ESTOU LENDO NO LIMIAR DE 2012

já li recentemente A Sombra de Orfeu, um livro ensaio de Ivan Junqueira, da editora Nórdica. A edição é de 1984, mas permanece atual pela crítica aguçada que o autor faz em relação a livros e autores entre eles Adélia Prado, Ferreira Gullar e sua poesia social. A sombra de Orfeu é um livro de crítica, muito inteligente.

Outro livro interessante é Nosostros In usa, uma literatura etnográfica e geografias de resistência(Jorge Zahar Editor). Estou lendo o jogo do Anjo que retrata o personagem como a vida sendo um constante xeque-mate versando sobre destino ou prtesdestinação a partir da visão de um escritor genial mas que se considera medíocre e mergulha na escrita como uma paranóia.

domingo, 31 de julho de 2011

ESTOU LENDO RAÍZES DO BRASIL

Estou lendo Raízes do Brasil, um livro que nos faz compreender o caldeirão cultural de um pais de dimensões gigantescas. É um livro que a principio parece hermético pela profundidade das análises, que com o passar das páginas você vai devorar cada idéia, cada ponto de vista do autor.

POEMAS EM ÁRVORES

Estou participando de um projeto interessante que está sendo posto em prática em Minas gerais. O Poema em árvores onde os poemas dos poetas são colocados nos galhos ,nas ruas, praças, escolas. As pessoas passam, gostam de ler e as vezes levam o texto...

Muito boa essa idéia, bem que poderíamos sacudir essa cidade com idéias inovadoras trabalhando propostas de poemas através de poemas e outros textos. Inclusive estou montando uma seleção de lendas que o povo conta aqui de Itaituba para publicar num livro ainda esse ano.Que tal me mandar a sua, aquela contada por de sua avó, tio, mãe ou vizinha?

ESPELHO D ÁGUA

O rios são espelhos

Onde homens e peixes

Se contemplam num vai e vem

O peixe em sua Piracema

O homem em sua sina

De viver

De dar vazão a existência

Mas o rio que um dia foi seu leito

De fartura

Virou seu túmulo

De agrura

Saiu para pescar

Não almas, nem homens errantes

Foi em busca da bóia

Pra alimentar sua gente

Remou, remou tanto

Que perdeu a margem do rio

O pescador foi engolido pelo remanso

Ou talvez pela Sucuri

Sua manhã foi um pretexto de partida

Sua vida não era daqui nem dali

Era de todo lugar...

Mas quem sabe não morreu

Mas sim foi encantado

Pela sereia

Mas pelo sim, pelo não

O me nino lhe espera

Olha distante num vão do horizonte

Acenando da areia...

Espera seu pai no dorso do rio na esperança que seja

Devolvido pela sereia...

Poema inédito do novo livro"Versos Caboclos" a ser lançado esse ano

sábado, 28 de maio de 2011

Velho Cego, Choravas

Velho cego, choravas quando a tua vida
era boa, e tinhas em teus olhos o sol:
mas se tens já o silêncio, o que é que tu esperas,
o que é que esperas, cego, que esperas da dor?

No teu canto pareces um menino que nascera
sem pés para a terra e sem olhos para o mar
como os das bestas que por dentro da noite cega
- sem dia ou crepúsculo - se cansam de esperar.

Porque se conheces o caminho que leva
em dois ou três minutos até à vida nova,
velho cego, que esperas, que podes esperar?

Se pela mais torpe amargura do destino,
animal velho e cego, não sabes o caminho,
eu que tenho dois olhos to posso ensinar.

Pablo Neruda, in "Crepusculário"
Tradução de Rui Lage

poema de Pablo Neruda

EM UM CERTO REINADO

Um rato ruim

Havia roído

A roupa de um rei tupiniquim

O rei havia ditado

Que todo pobre fosse condenado

A miséria e escravidão

Mas o povo sem nada entender

Reverenciava o rei

Enclausurado

Nas muralhas da ambição

O rei vivia rodeado

De bobos da corte

Que riam a toa

Mesmo no açoite

O rei ditador

Não tinha coração

Mas quanto mais

Maltratava seu povo, o povo lhe reverenciava

E ela nada entendia, posando de artista

Interrogava-se e o Bobo da corte respondia

Meu rei meta o chicote

Que o povo desse reino vive de utopia

E o rei mal coroado, ditando suas normais e leis

Sem nada entender dizia

Que se no reino tanto mal havia, o problema era de vocês

Quem?

Nós, sem opinião nem voz

E assim durou muito tempo o reinado

Porque o povo calado

Nada dizia

E o tempo virava retrocesso

Dia e noite e dia

E assim reinou soberano

O rei da farsa e da fantasia.

Nazareno Santos-Poeta Itaitubense

O ALGOZ E O CARRASCO

Um rio raso

Um riso

Um asco

Uma razão aparente

Uma maré de vazão e enchente

O amor de repente surgindo do nada

Um olhar distante

Uma mão atada

O poema libertino

Vaga à toa como um menino perdido na estrada

Feito anjo

Errante na madrugada

O rio é o asco

É o riso é o frio

O algoz e o carrasco

Nazareno Santos- Responsável por esse blog

E-meio-tribunna@hotmail.com


SONETO DA ESPERANÇA PERDIDA

Perdi o bonde e a esperança

Volto pálido para casa

A rua é inútil e nenhum auto

Passaria sobre meu corpo

Vou subir a ladeira lenta

Em que os caminhos se fundem

Todos eles conduzem ao

Princípio do drama e da flora

Não sei se estou sofrendo

Ou se é alguém que se diverte

Por que não? Na noite escassa

Com um insolúvel flautim. Entretanto há muito tempo

Nós gritamos sim! Ao eterno

Carlos Drumond de Andrade

PAES LOUREIRO E SUA PROSA FICCIONAL NARRATIVA



Uma freiada brusca bastaria
bastaria o pânico de um grito
o forte ruflar bastaria das asas do destino
e o dedo do medo no gatilho
detonaria a bala.
Mais uma flor de juventude tombaria
numa poça de sangue e impunidade.

E o mundo continuaria a lamber
e a virar as páginas dos dias.
Os ônibus continuariam a levar
passageiros sentados a olhar o pânico
disfarçado na paisagem das ruas.
E o delinqüente continuaria no crack da sarjeta
a jogar o vídeo game da espera de outro ônibus
de outro ônibus e mais outro e de mais outro…

CategoriasAntipoemas


Japão, após o tsunami/2011

Tomba da essência apenas a aparência.
Uma pétala cai do olhar da cerejeira.
Rui o não-ser das pálpebras do ser.

CategoriasAntipoemas

Tragédia em Realengo

Na Escola Municipal Tasso da Silveira
bairro do Realengo
zona oeste do Rio de Janeiro
7 de amargo abril 2011
onze crianças foram assassinadas.
Cada bala matou
a infância nos meus versos.

Pelo buraco dos fonemas
esvaiu-se a vida
na hemorragia insana.

A morte dessas crianças
esvaziou o poema
esvaziou a poesia
esvaziou-me na cova das palavras.

sábado, 14 de maio de 2011

NÃO!

Não gosto do não
Prefiro o sim
o Não é brusco
reiventa a solidão
Dá a falsa sensação de segurança

Prefiro o sim
Porque assim a gente alcança
se preciso as vezes o paraíso
O sim não machuca
o não fere
dói na alma
no coração
Sim ou não não ou sim
na pior das hipóteses
prefiro você juntinho a mim..

SONETO DE FIDELIDADE



De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.


tomara

Que você volte depressa
Que você não se despeça
Nunca mais do meu carinho
E chore, se arrependa
E pense muito
Que é melhor se sofrer junto
Que viver feliz sozinho

Tomara
Que a tristeza te convença
Que a saudade não compensa
E que a ausência não dá paz
E o verdadeiro amor de quem se ama
Tece a mesma antiga trama
Que não se desfaz

E a coisa mais divina
Que há no mundo
É viver cada segundo
Como nunca mais...

Vinícius de Moraes

Vamos Interagir Moçada

Esse blog foi criado para incentivar a arte, a cultura,divulgar nossos valores que ainda estão no anonimato. Mande seu poema, sua crônica, enfim qualquer que seja seu texto, envie também um comentário sobre um livro que você leu e gostaria que outras pessoas pudessem conhecer...mande uma foto sua 3X4 que colocaremos na galeria permanente dos nossos colaboradores.

Você pode enviar sua contribuição literária pelo e-mail tribunna@hotmail.com, ou nazarenoatribuna@bol.com.br ou pelo fone 811940- Itaituba, Pará

SERES DE ENCANTAMENTO

Jurupari
Caipora
Curupira
jacanã
Amanhã
Reina Iara
bailando
Sobre os lírios
e delírios do amor
Beija-flor semeia o doce
De sua ternura
cortejando o rio
Tapajós
Mãe d àgua lava os cabelos, enfeiticando nos igapós

Enquanto a sereia retoca a maquilagem
Dança o boto
seduzindo a cabocla que sorri

No espelho contemplando sua própria miragem
Chega a noite
e os seres encantados se encantando
profundamente
Tão somente
Com os encantos da paisagem

Nazareno Santos

Para refletir

Com as lágrimas do tempo e a cal do meu dia eu fiz o cimento da minha poesia.

Vinícius de Moraes

O INVISÍVEL DO MEU SER

Não quero deixar insone a sinfonia de minhas razões
Tropeço sobre pedras invisíveis
Voo entre rios fazendo da imaginação o silencio onde encontro Deus
Entre os vãos de minhas inquietações

A poesia desliza sombria sobre minha alma
Não me acorrento a dogmas nem busco explicações em filosofia
Sou um alienígena de mim mesmo mesmo no planeta incógnita
Um ser desnudando antropofagia e devorando poesia

Monalisa com seu sorriso mordaz
Não me satisfaz
Não tenho medo de Medusa
Nem preciso decifrar a vida ou a morte
Se o destino me recusa
Sou apenas um poeta que sonha
Que ama e que busca a verdade
ignorando o azar ou a sorte

A porta do segredo está escancarada
Não temo mais nada
Pois já superei o inferno de Dantes
Fui Dom Quixote e seu cavalheiro andante
brigando contra inimigos inexistentes

Chorei , calei, gritei, me bastei com as incoerências humanas
Só sei que amei
Intensamente
Talvez assim de forma insana

Nazareno Santos


FRAGMENTOS DE TEXTOS DO GENIAL JOSÉ SARAMAGO

Ou de ser num estar que me transcende,
Numa rede de presenças
E ausências,
Numa fuga para o ponto de partida:
Um perto que é tão longe,
Um longe aqui.
Uma ânsia de estar e de temer
A semente que de ser se surpreende,
As pedras que repetem as cadências
Da onda sempre nova e repetida
Que neste espaço curvo vem de ti.

Na ilha por vezes habitada

Na ilha por vezes habitada do que somos, há noites,
manhãs e madrugadas em que não precisamos de
morrer.
Então sabemos tudo do que foi e será.
O mundo aparece explicado definitivamente e entra
em nós uma grande serenidade, e dizem-se as
palavras que a significam.
Levantamos um punhado de terra e apertamo-la nas
mãos.
Com doçura.
Aí se contém toda a verdade suportável: o contorno, a
vontade e os limites.
Podemos então dizer que somos livres, com a paz e o
sorriso de quem se reconhece e viajou à roda do
mundo infatigável, porque mordeu a alma até aos
ossos dela.
Libertemos devagar a terra onde acontecem milagres
como a água, a pedra e a raiz.
Cada um de nós é por enquanto a vida.
Isso nos baste.


Dulcineia

Quem tu és não importa, nem conheces
O sonho em que nasceu a tua face:
Cristal vazio e mudo.
Do sangue de Quixote te alimentas,
Da alma que nele morre é que recebes
A força de seres tudo.

O que as vitórias têm de mau é que não são definitivas. O que as derrotas têm de bom é que também não são definitivas.


Quem acredita levianamente tem um coração leviano.

O espelho e os sonhos são coisas semelhantes, é como a imagem do homem diante de si próprio.

A virtude, quem o ignorará ainda, sempre encontra escolhos no duríssimo caminho da perfeição, mas o pecado e o vício são tão favorecidos da fortuna que foi ela chegar e abrirem-se-lhe as portas do elevador

Sempre chega a hora em que descobrimos que sabíamos muito mais do que antes julgávamos.


Poema à boca fechada


Não direi:
Que o silêncio me sufoca e amordaça.
Calado estou, calado ficarei,
Pois que a língua que falo é de outra raça.

Palavras consumidas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vaza de fundo em que há raízes tortas.

Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que me não conhecem.

Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais bóiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.

Só direi,
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quando me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo.

O talento ou acaso não escolhem, para manisfestar-se, nem dias nem lugares.

José Saramago

Há ocasiões que é mil vezes preferível fazer de menos que fazer de mais, entrega-se o assuntto ao governamento da sensibilidade, ela, melhor que a inteligência racional, saberá proceder segundo o que mais convenha à perfeição dos instantes seguintes.

José Saramago

Cada dia traz sua alegria e sua pena, e também sua lição proveito

Os lugares-comuns, as frases feitas, os bordões, os narizes-de-cera, as sentenças de almanaque, os rifões e provébios, tudo pode aparecer como novidade, a questão está só em saber manejar adequadamente as palavras que estejam antes e depois.


Não sou um ateu total, todos os dias tento encontrar um sinal de Deus, mas infelizmente não o encontro.

"Dirão, em som, as coisas que, calados,no silêncio dos olhos confessamos?

Sorriso, diz-me aqui o dicionário, é o acto de sorrir. E sorrir é rir sem fazer ruído e executando contracção muscular da boca e dos olhos.

O sorriso, meus amigos, é muito mais do que estas pobres definições, e eu pasmo ao imaginar o autor do dicionário no acto de escrever o seu verbete, assim a frio, como se nunca tivesse sorrido na vida. Por aqui se vê até que ponto o que as pessoas fazem pode diferir do que dizem. Caio em completo devaneio e ponho-me a sonhar um dicionário que desse precisamente, exactamente, o sentido das palavras e transformasse em fio-de-prumo a rede em que, na prática de todos os dias, elas nos envolvem.

Não há dois sorrisos iguais. Temos o sorriso de troça, o sorriso superior e o seu contrário humilde, o de ternura, o de cepticismo, o amargo e o irónico, o sorriso de esperança, o de condescendência, o deslumbrado, o de embaraço, e (por que não?) o de quem morre. E há muitos mais. Mas nenhum deles é o Sorriso.

O Sorriso (este, com maiúsculas) vem sempre de longe. É a manifestação de uma sabedoria profunda, não tem nada que ver com as contracções musculares e não cabe numa definição de dicionário. Principia por um leve mover de rosto, às vezes hesitante, por um frémito interior que nasce nas mais secretas camadas do ser. Se move músculos é porque não tem outra maneira de exprimir-se. Mas não terá? Não conhecemos nós sorrisos que são rápidos clarões, como esse brilho súbito e inexplicável que soltam os peixes nas águas fundas? Quando a luz do sol passa sobre os campos ao sabor do vento e da nuvem, que foi que na terra se moveu? E contudo era um sorriso.



Mesmo que a rota da minha vida me conduza a uma estrela, nem por isso fui dispensado de percorrer os caminhos do mundo.