terça-feira, 29 de dezembro de 2009

RAINER MARIA RILKE UM POETA INOVADOR


Registro no blog um poeta que dispensa comentáios que diria são textos que removem o que há de mais verdadeiro nos subterrâneos do espirito humano. Leia, conheça produndament o poeta alemão que já foi bastante traduzido no mundo.
Rainer Maria Rilke nasceu em Praga em 4 de dezembro de 1875. É considerado como um dos mais importantes poetas modernos da literatura e língua alemã, por sua obra inovadora e seu incomparável estilo lírico.

"Poeta fundamental, Rilke é a voz de uma época em transição. Talvez seja a última voz do seu tempo, aquela que anunciou o "fim dos tempos modernos", como quer Romano Guardini, e ao mesmo tempo a primeira voz e o primeiro poeta dessa nova era que estamos começando a viver."
(Paulo Plínio Abreu - parte de uma introdução sobre a obra de Rilke publicado no jornal paraense:"Folha do Norte" entre os anos de 1946 e 1948)
O Livro de Imagens. Das Buch der Bilder, 1902.
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"No mundo, a coisa é determinada, na arte ela o deve ser mais ainda: subtraída a todo o acidente, libertada de toda a penumbra, arrebatada ao tempo e entregue ao espaço, ela se torna permanência, ela atinge a eternidade. (...)"
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"Quero viver como se o meu tempo fosse ilimitado. Quero me recolher, me retirar das ocupações efêmeras. Mas ouço vozes, vozes benevolentes, passos que se aproximam e minhas portas se abrem..."
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"Procure entrar em si mesmo. Investigue o motivo que o manda escrever; examine se estende suas raízes pelos recantos mais profundos de sua alma; confesse a si mesmo: morreria, se lhe fosse vedado escrever? Isto acima de tudo: pergunte a si mesmo na hora mais tranqüila de sua noite:"Sou mesmo forçado a escrever?" Escave dentro de si uma resposta profunda. Se for afirmativa, se puder contestar àquela pergunta severa por um forte e simples "sou", então construa a sua vida de acordo com esta necessidade. Sua vida, até em sua hora mais indiferente e anódina, deverá tornar-se o sinal e o testemunho de tal pressão. Aproxime-se então da natureza. Depois procure, como se fosse o primeiro homem, a dizer o que vê, vive, ama e perde. (...)"

O torso arcaico de Apolo
Não conhecemos sua cabeça inauditaOnde as pupilas amadureciam. MasSeu torso brilha ainda como um candelabroNo qual o seu olhar, sobre si mesmo voltado
Detém-se e brilha. Do contrário não poderiaSeu mamilo cegar-te e nem à leve curvaDos rins poderia chegar um sorrisoAté aquele centro, donde o sexo pendia.
De outro modo erger-se-ia esta pedra breve e mutiladaSob a queda translúcida dos ombros.E não tremeria assim, como pele selvagem.
E nem explodiria para além de todas as fronteirasTal como uma estrela. Pois nela não há lugarQue não te mire: precisas mudar de vida.
(Tradução: Paulo Quintela)

- Que farás tu, meu Deus, se eu perecer?
Que farás tu, meu Deus, se eu perecer?Eu sou o teu vaso - e se me quebro?Eu sou tua água - e se apodreço?Sou tua roupa e teu trabalhoComigo perdes tu o teu sentido.
Depois de mim não terás um lugarOnde as palavras ardentes te saúdem.Dos teus pés cansados cairãoAs sandálias que sou.Perderás tua ampla túnica.Teu olhar que em minhas pálpebras,Como num travesseiro,Ardentemente recebo,Virá me procurar por largo tempoE se deitará, na hora do crepúsculo,No duro chão de pedra.
Que farás tu, meu Deus? O medo me domina.
(Tradução: Paulo Plínio Abreu)

- Hora GraveQuem agora chora em algum lugar do mundo,Sem razão chora no mundo,Chora por mim.
Quem agora ri em algum lugar na noite,Sem razão ri dentro da noite,Ri-se de mim.
Quem agora caminha em algum lugar no mundo,Sem razão caminha no mundo,Vem a mim.
Quem agora morre em algum lugar no mundo,Sem razão morre no mundo,Olha para mim.
(Tradução: Paulo Plínio Abreu)

Morgue
Estão prontos, ali, como a esperarque um gesto só, ainda que tardio,possa reconciliar com tanto frioos corpos e um ao outro harmonizar;
como se algo faltasse para o fim.Que nome no seu bolso já vaziohá por achar? Alguém procura, enfim,enxugar dos seus lábios o fastio:
em vão; eles só ficam mais polidos.A barba está mais dura, todaviaficou mais limpa ao toque do vigia,
para não repugnar o circunstante.Os olhos, sob a pálpebra, invertidos,olham só para dentro, doravante.
A PANTERA

(Tradução: Augusto de Campos)
No Jardin des Plantes, Paris
De tanto olhar as grades seu olharesmoreceu e nada mais aferra.Como se houvesse só grades na terra:grades, apenas grades para olhar.
A onda andante e flexível do seu vultoem círculos concêntricos decresce,dança de força em torno a um ponto ocultono qual um grande impulso se arrefece.
De vez em quando o fecho da pupilase abre em silêncio. Uma imagem, então,na tensa paz dos músculos se instilapara morrer no coração.
(Tradução:
Augusto de Campos)

A GAZELA
Mágico ser: onde encontrar quem colhaduas palavras numa rima iguala essa que pulsa em ti como um sinal?De tua fronte se erguem lira e folha
e tudo o que és se move em similarcanto de amor cujas palavras, quaispétalas, vão caindo sobre o olharde quem fechou os olhos, sem ler mais,
para te ver: no alerta dos sentidos,em cada perna os saltos reprimidossem disparar, enquanto só a fronte
a prumo, prestes, pára: assim, na fonte,a banhista que um frêmito assustasse:a chispa de água no voltear da face.

SÃO SEBASTIÃO
Como alguém que jazesse, está de pé,sustentado por sua grande fé.Como mãe que amamenta, a tudo alheia,grinalda que a si mesma se cerceia.
E as setas chegam: de espaço em espaço,como se de seu corpo desferidas,tremendo em suas pontas soltas de aço.Mas ele ri, incólume, às feridas.
Num só passo a tristeza sobrevéme em seus olhos desnudos se detém,até que a neguem, como bagatela,e como se poupassem com desdémos destrutores de uma coisa bela.
(Tradução:
Augusto de Campos)

O ANJO
Com um mover da fronte ele descartatudo o que obriga, tudo o que coarta,pois em seu coração, quando ela o adentra,a eterna Vinda os círculos concentra.
O céu com muitas formas Ihe aparecee cada qual demanda: vem, conhece -.Não dês às suas mãos ligeiras nemum só fardo; pois ele, à noite, vem
à tua casa conferir teu peso,cheio de ira, e com a mão mais dura,como se fosses sua criatura,te arranca do teu molde com desprezo.

BORGHESE
Duas velhas bacias sobrepondosuas bordas de mármore redondo.Do alto a água fluindo, devagar,sobre a água, mais em baixo, a esperar,
muda, ao murmúrio, em diálogo secreto,como que só no côncavo da mão,entremostrando um singular objeto:o céu, atrás da verde escuridão;
ela mesma a escorrer na bela pia,em círculos e círculos, constante-mente, impassível e sem nostalgia,
descendo pelo musgo circundanteao espelho da última baciaque faz sorrir, fechando a travessia.
Dançarina Espanhola
Como um fósforo a arder antes que cresçaa flama, distendendo em raios brancossuas línguas de luz, assim começae se alastra ao redor, ágil e ardente,a dança em arco aos trêmulos arrancos.
E logo ela é só flama, inteiramente.
Com um olhar põe fogo nos cabelose com a arte sutil dos tornozelosincendeia também os seus vestidosde onde, serpentes doidas, a rompê-los,saltam os braços nus com estalidos.
Então, como se fosse um feixe aceso,colhe o fogo num gesto de desprezo,atira-o bruscamente no tabladoe o contempla. Ei-lo ao rés do chão, irado,a sustentar ainda a chama viva.Mas ela, do alto, num leve sorrisode saudação, erguendo a fronte altiva,pisa-o com seu pequeno pé preciso.

O CEGO

Ele caminha e interrompe a cidade, que não existe em sua cela escura, como uma escura rachadura numa taça atravessa a claridade.
Sombras das coisas, como numa folha, nele se riscam sem que ele as acolha:só sensações de tato, como sondas,captam o mundo em diminutas ondas:
serenidade; resistência -como se à espera de escolher alguém, atento,ele soergue, quase em reverência,a mão, como num casamento.

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