sábado, 21 de abril de 2012

SILÊNCIO E PALAVRA- TIAGO DE MELO

I

A couraça das palavras

protege o nosso silêncio

e esconde aquilo que somos

Que importa falarmos tanto?

Apenas repetiremos.

Ademais, nem são palavras.

Sons vazios de mensagem,

são como a fria mortalha

do cotidiano morto.

Como pássaros cansados,

que não encontraram pouso

certamente tombarão.

Muitos verões se sucedem:

o tempo madura os frutos,

branqueia nossos cabelos.

Mas o homem noturno espera

a aurora da nossa boca.

II

Se mãos estranhas romperem

a veste que nos esconde,

acharão uma verdade

em forma não revelável.

(E os homens têm olhos sujos,

não podem ver através.)

Mas um dia chegará

em que a oferenda dos deuses,

dada em forma de silêncio,

em palavra transfaremos.

E se porventura a dermos

ao mundo, tal como a flor

que se oferta - humilde e pura - ,

teremos então cumprido

a missão que é dada ao poeta.

E como são onda e mar,

seremos palavra e homem.

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