quarta-feira, 17 de junho de 2009

- O TURBILHÃO DE SONHOS E PESADELOS, OU O DRAMA DE MARIA DE MARIA.

Arrisquei num conto...o jogo de palavras é feito punhal que corta uma carne invisível...viver é arriscar, é jogar com as palavras, mas se elas são simples cúmplices na reconstrução do nada...acabamos entendendo que o nada é filosoficamente sem explicação...Meras palavras em conflito como nossa própria existência.
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Como num turbilhão, os pensamentos de Antonio rodopiam, misturando imagens surrealistas, onde os dentes caninos do velho coronel decadente saltam sobre a jugular de Maria de Maria, que com os olhos arregalados, estupefata fica muda, como se fugisse de um fantasma delineado na própria figura demoníaca do velho coronel com sua obsessão de fazer de Antonio a ponte entre o céu e o inferno, de uma história conjugal obscura e confusa. Passado a etapa de letargia, Maria de Maria, como em estado de delírio, fita bem nos olhos do velho coronel, rugindo em passos intercalados feito um jaguar pronto para agarrar sua presa.
Antonio confuso observa a cena, temeroso de um desfecho trágico, afinal Maria de Maria ainda não sabe de fato, mas de direito usando sua astúcia de mulher, sua percepção ou o sexto sentido como dizem por ai, já captou no ar a indiferença e o jeito ardiloso do coronel que pretende se livrar dela, como se descarta uma embalagem em um supermercado. À medida que rodeia o coronel, Maria imagina que ele seja uma alma penada que voltou para fazê-la sofrer, afinal pensa com seus botões,.”Esse bode velho já não tinha batido as botas e ido lá para os quintos do inferno?”
Chegando mais perto, quase fungando no cangote dele Mara de Maria solta uma avalanche de impropérios, ao mesmo tempo em que dá gargalhadas, elevando cada vez mais o tom da voz, quer que o velho ranzinza pense que ela enlouqueceu, misturando frases desconexas com risos de hienas, ela deixa o velho coronel em total estado de pânico.

Antonio por sua vez que ficara o temp todo em silêncio assistindo a cena surrealista resolve intervir, afinal pelo suor que escorria do rosto do coronel, temeu que o mesmo sofresse um infarto de fato batendo as botas.
---Antonio-Sacudindo os ombros do coronel, lhe chama-Coronel?.Coronel?, O que está sentindo fale comigo!...E o coronel sem nada falar apenas bailava com seus olhos de chacal fitando Antonio e Maria de Maria, agora a Maria Louca de pedra, a doidas varridas, que filosofava coisa com coisa, a Maria louca que voltava para lhe azucrinar a paciência.
Nesse ínterim Maria de Maria já havia ido até um velho armário, e de lá retirado uma faca pontiaguda, mas apenas sentou –se de cócoras e ficou amolando a faca na porta antiga de madeira de lei, mas já sendo comida pelos cupins. Maria de Maria amolando a faca olhando de soslaio para o coronel, que pressentindo o perigo suava cada vez mais frio, buscando em Antonio uma proteção iminente contra um possível ataque de Maria de Maria, que continuava amolando a faca, mas desta feita imaginando passá-la sobre o pescoço do velho, igual quando ela sangrava porcos, para servir aos convidados no dia da festa do casamento em Mearin ,Maria imaginava o sangue jorrando o velho dependurado e o sangue coalhando dentro de uma bacia de alumínio...Além do sangue, imaginava o velho se estrebuchando, fuçando na lama de sua própria mesquinharia.

Antônio assustado fica entre Maria de Maria e o coronel, seguindo cada gesto para evitar que Maria de Maria faça uma loucura.

--Maria! Dê-me essa faca aqui, pede com um certo cuidado, mas temendo uma reação inusitada de Maria de Maria, enquanto pede a faca, Antônio lembra da humilhação a que fora submetido pelo Coronel, espia o cofre metálico em meio à torre de babel de coisas velhas guardadas, imagina que poderia ajudar a matar o velho, roubaria talvez os milhões amealhados ao longo dos anos de mesquinhez do coronel, fugiria com Maria para uma Ilha desconhecida e lá viveriam felizes para sempre...Mas logo espantou o pensamento nefasto afinal uma morte ali, a essas horas menos de 10 da manhã...

Maria de Maria, se levanta bruscamente, caminha em direção ao coronel que apavorado não consegue balbuciar uma palavra sequer, com gestos ameaçadores como se fora um samurai usando um espadachim Maria de Maria, encosta a faca lentamente no pescoço do coronel e incontinenti solta uma gargalhada tétrica que ecoa por todo o quarteirão, em seguida joga a arma fora, pega nas mãos de Antonio e sai lentamente até a rua, de onde saltitante corre como se fosse uma bailarina em busca de sonhos...
Da janela, olhar distante, olhos marejados de lágrimas, o coronel vislumbra Maria de Maria sumindo num horizonte obscuro oculto atrás de uma montanha como se fora à própria alegoria da vida...Entendeu assim que Maria a louca queira agora virar um anjo quem sabe um anjo querubim para proteger todos aqueles que buscavam um sonho..,
Após a montanha vislumbrou uma gaivota varando o espaço, em busca de Maria Maria e Antonio o devasso que bailavam sobre as nuvens, em busca talvez da ilha desconhecida. Maria de Maria, se banhou nas águas do rio tapajós, numa aura de puta arrependida em busca de sua santidade perdida nos labirintos recônditos dos garimpos onde entre amores mal resolvidos e desilusões nada juntou do ouro maldito que a fez abrir as pernas em movimentos incontáveis satisfazendo velhos asquerosos e jovens maledicentes que antes de rasgarem as entranhas de sua carne, rasgaram as entranhas de sua alma repleta de pesadelos que destruíram seus sonhos de menina, que ficaram nas ruas estreitas de Santa Inêz do Maranhão.Maria de Maria queria ser professora, mas virou quenga pra fugir da miséria...

Nazareno Santos

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