sábado, 20 de junho de 2009

Um poeta de Ponta (1ª parte

UM SONETO POR FAVOR...

Para um poeta ser poeta deveria compor um soneto....Com esse mote Jonas levanta um debate talvez...O soneto já está meio em desuso...muitos poetas dizem que é uma camisa de força da criação, porque obriga a palavra em combinação de rimas...Jonas aborda uma questão que muitos não haviam atentado...tem poucos autores fazendo soneto..E eu sou um deles, nada contra o soneto, que considero uma jóia a ser burilada...Estou metendo minha colher de pau (alias de poesia) neste tema , mas não pretendo ser coveiro nas idéias dos outros, acho que o soneto é uma arte do jogo de palavras bem arrumadinhas cada uma no seu lugar na hora certa...Soneto da fidelidade de Vinicius é um belo poema...Mas segue ai embaixo as dissertações do Poeta conterrâneo de Dalcídio Jurandir para suas conclusões (sem final porque um bom debate não deve ter fim)

Acabara de ler o regulamento. Pela primeira vez admitia-se inscrever poemas de forma fixa. Todo poeta de verdade deveria ser capaz de compor um soneto.
Mas sobre o que escreveria este ano?

Pegou um bloco de papel, uma caneta e foi ao trapiche municipal. A tarde estava mole e as ruas da cidade alimentavam uma lassidão nas casas.
Epa! O trapiche está sendo reconstruído. Ah, o velho trapiche que nas madrugadas desertas mais parecia uma cobra-grande ressonando na mansidão das águas escuras do Marajó-açu... Desviou o olhar. Avistou as mangueiras em frente à escola Aureliana; dirigiu-se para lá. Ao pé de uma imponente árvore, buscava a inspiração de que precisava. Nada, não saía nada.


Resolveu ir para a praça Antônio Malato. Ficou contemplando por algum momento as ruínas da antiga Prefeitura. Talvez devesse rascunhar um poema sobre a grandeza desse outrora Palácio Municipal. Outros já o fizeram em verso e prosa?! Já o têm como símbolo, hoje, de um tempo político devassador, hostil? Foi a tomada da Bastilha, a nossa Revolução Francesa!
Preferiu não. Melhor buscar outro assunto, outro fato.

Caminhou em direção ao cemitério. Um outro poeta já falou de seu mistério.
Buscava, então, algo de “altaneiro”? Queria a majestade de um município que reina “sob a imensidão do céu marajoara” (mencionando Sandoval Teixeira, músico que agora está sendo lembrado pela Associação Musical Antônio Malato)? E falando em AMAM, maravilha sentir os frutos dessa importantíssima instituição muito bem representada por seus músicos, em especial, o professor regente Marcelo Tavares; por meio de seu trabalho, ela ganha notoriedade no Pará e no Brasil.

Essa entidade sim, admitiu mentalmente nosso poeta, tem merecimento de um poema em sua homenagem. Mas o quê? Nada, não é desta vez.
Continuou a vagar pela cidade. As ruas agora já apresentam algum movimento.
Suplicou às musas do Parnaso, em frente ao campo de futebol: fazer uma obra em que figurem Marcenaria, Acadêmicos, Pedregulho e outros clubes do município...; seria uma boa idéia? Pouco se interessou pelos jogos na região; para ele, só existiam Paysandu e Remo, e a Seleção Brasileira.

O passeio já estava alongando. Todavia, caminhar parecia ser a melhor saída para conseguir o mais belo poema e poder assim concorrer.
Lembrou-se de nosso açaí, de nosso camarão, e arriscou uma quadra:
Ah, cheiro da brasa e cheiro do tucupi
Estão assando camarão lá no quintal
Vejo os espetos da tala de jupati
-Movimentos típicos perto do jirau
Nada mau, achou. Mas faltava o açaí; faltava a gente cabocla. Tentou mais quatro versos:
Então me convida a dona Marianinha
Que sabe amassar o açaí no alguidar
E me aponta com a boca em bico a farinha
-Que bom uma comunidade visitar!
Gostou das rimas e do metro. Voltou a andar. Aproximara-se do Arapinã. Leu, releu as duas estrofes. Preciso melhorar. Vão me criticar por esses versos batidos e com pouca imaginação. Embolou o papel e enfiou no bolso.
Atravessou pela ponte. Das canoas atracadas ouviam-se as vassouradas que os tripulantes davam no fundo dos cascos das embarcações: era a faxina depois da viagem. Não quis parar. Pessoas o notavam agora. Prosseguiu nosso inconcusso poeta, rabiscando, andando.
No campo de aviação, imaginou o pouso suave de uma deusa que lhe traria a palavra exata, a colocação perfeita; o ritmo fluiria e quando percebesse, lá estaria o seu melhor poema, com sua mais sublime poesia.-


Jonas Furtado, de Ponta de Pedras, nas Ilhas do Marajó já é um seguidor de rio das letras..alias já são dois com a operária das letras, a marabaense Marilene Silva, bom sinal...

Um comentário:

  1. Opa! Parece que a maré faz percursos de versos e reversos... Discutir sobre o soneto (forma fixa de origem, se não me engano, italiana)não é fazer nada de novo, muitos já o fizeram e concordo com "camisa de força da criação", mas no sentido de que só se deva fazer esse tipo de poema... Somos frutos de um estilo que ainda não se definiu (duvido que se defina!)e ser livre é o que o poeta moderno sempre pregou, inclusive ser livre para "prender-se" nas amarras de um soneto. Sobre a questão de que o soneto está em desuso, não concordo - ele não é muito usado, o que é diferente. Um dos maiores poetas contemporâneos, Antônio Juracy Siqueira, possui pelo menos um: "Soneto de Eros". Vinícius de Morais foi um fazedor de sonetos maravilhosos... Na condição de escrevedor, eu tento fazer alguns.
    Agora o soneto a que o texto acima se refere não é uma discussão minha, mas da personagem "Um poeta de Ponta" (vamos aqui pensar assim...); notamos que essa personagem encontra certa dificuldade em compor um, o que o deixa numa condição de ser ou não ser um "poeta de verdade", conforme afirma.

    Claro que prefiro a liberdade de atender aos anseios do ato do acontecer poético; mas poemas de formas fixas, para mim, é uma espécie de jogo-brincadeira em que ganhar ou perder não faz a menor diferença.

    Que a nossa maré continue com a força poderosa de comunicação através desse barco internetiorano.

    Um abraço.
    JONAS FURTADO

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