domingo, 17 de abril de 2011

O ESCRITOR FOI ENCONTRADO MORTO


O escritor Wilson Pinto Bueno, de 61 anos, foi encontrado morto dentro de sua residência, no bairro Santa Cândida, em Curitiba as 19h30 desta segunda-feira. Ainda não se sabe qual foi a causa da morte, mas havia sinais de violência.

Wilson Bueno nasceu em Jaguapitã, no Norte do Paraná, em 1949, mas morava em Curitiba desde a década de 1970. Ele era considerado um dos mais importantes escritores brasileiros contemporâneos. Foi apresentado aos leitores brasileiros em 1986, pelo poeta curitibano Paulo Leminski, com a publicação da coletânea de contos Bolero’s Bar. Com a novela Mar paraguayo, lançada em 1992, ganhou projeção nacional e internacional.

O escritor foi o criador e editor, durante oito anos, do suplemento de ideias Nicolau, considerado o Melhor Jornal Cultural do Brasil pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA), em 1987. Ele também era cronista do jornal “O Estado do Paraná”, da revista “Ideias” e colaborador do caderno cultural do jornal O Estado de São

Paulo..CONVERSA COM A TRISTEZA por tonicato miranda / curitiba

Não sei por quais cavalgadas chegou, senti apenas a presença dela passando por mim como um vento avassalador; qual o perfume que nos roda a cabeça colocando nosso olhar nas costas. Falo da tristeza. Ela veio aos galopes convidando-me para beber vinhos.

Estou em Sorocaba trabalhando e a ouvir fados. Hoje desprezei o jazz e a bossa nova – resolvi ouvir fados. Não sei se foi Pessoa. Não sei se foram os meus três amigos portugueses. Ou se foi a distância de casa. Sempre distante dela estou. Hoje vivo na estrada, e dos ônibus de algumas companhias quase já lhes reconheço os estofamentos e poltronas. Sei apenas que a tristeza passou por aqui deixando em mim uma mágoa invasora. Ela é vírus invadindo-me a alma, navegando-me nas veias, em visita aos meus órgãos internos para prostrar-me como um nada.

Ah, como são tristes estes portugueses. Ah, como é triste qualquer canção na distância. Nenhuma vontade tenho de sair para jantar… (dia anterior)

—–mmm—–

Agora novamente na hora do almoço não tenho vontade de sair para comer. Neste momento estou sem Internet. Não quero comprar outro cartão de 24h para usá-lo por apenas uma hora. Por isto resolvo dar continuidade à tristeza ouvindo Rita Ribeiro e uma das suas canções. “…Uma noite sem você é muito tempo, e uma vida é muito pouco…” São dois versos de uma beleza triste arrebatadora. No entanto, a música pode mais do que as palavras nesta canção. Sendo mais triste do que a letra. Isto me impressiona.

Parecia claro para nós apaixonados pela linguagem, ser a palavra a razão de tudo. Mentira. Mentira. A música pode mais. Ela é causadora de loucas vertigens nos nossos corações e tímpanos. A música e seus múltiplos instrumentos podem nos matar devagarzinho. Pode nos diminuir em fado triste, achatando nossas virtudes; rolando nossas cabeças até os pés e arrastar-nos ao nível de um chinelo gasto, mesmo que nada caminhemos. Agora entendo as pessoas com depressão. Agora entendo o choro calado dos desvalidos. Agora entendo a tristeza estampada no olhar da moça feia. Entendo a ausência de sorrisos nos rostos dos desprezados.

Não sei classificar a tristeza. Será terá ela escalas? Será mais dolorida entre aqueles vivendo a orfandade repentina de parentes e amigos? Ou serão mais tristes os que sofrem a dor do amor não correspondido? O que dizer então dos amargurados com a indiferença dos vizinhos, dos colegas, parentes e do mundo ao redor? Qual será o mais triste riso na face dos desprezados? Qual a cor do seu sorriso? Amarelo ovo ou creme torturado? Tivessem asas alçariam vôo indo para o alto das pedras do planeta para chorarem calados.

A tristeza dói a dor de estar presente e estar fora do próprio corpo. Uma pessoa caminha lá fora junto aos automóveis. Ela vem ao encontro do meu olhar e sacode ligeiramente a bolsa. Vem se aproximando bem devagar. O olhar a zero grau do seu pescoço demonstra-me estar triste. Será está ela como eu, ouvindo músicas tristes no pensamento? Por que me preocupar com a sua tristeza quando eu mesmo estou aqui arrebatado por minha própria tristeza? Nuvens brancas no céu suavizam o azul espacial gerando sombras em pedaços da cidade. Faz calor, mas sinto um frio arrepiando-me a espinha. Talvez seja o ar condicionado. Acho é mais provável seja o fato de estar sem camisa, de estar com a alma desagasalhada do calor de uma mulher.

É melhor espantar a tristeza antes que ela acabe com o resto do meu dia. Vou conversar com ela.

__ Escuta aqui ô tristeza, quem lhe deu o direito de entrar sem ser convidada?

__ Ué, não gosta da minha presença?

__ Preciso trabalhar, minha senhora.

__ De fato não lhe entendo. Você já não afirmou para mim, mesmo quando estava ausente cuidando de muitas dores, de que precisava de mim para produzir bons poemas?

__ Espera lá! Não entendo onde está a relação de uma coisa com a outra. Poemas são imagens, não são verdades fixas.

__ Ah, então é assim. Você me usa e depois me descarta. Sirvo então ao propósito de apenas inspirá-lo para a produção de beleza? – falou ela meio indignada, colocando as mãos nas cadeiras.

__ Calma. Não é bem assim. Admito ser mais intenso em mim – e chego a ficar mais perto da beleza, quando estou triste e produzo poemas. Mas daí a você querer montar acampamento na minha vida. Isto não é possível. Sai fora, Chôô!!

__ Sabe, meu caro, você é uma pessoa muito ingrata. Estou sempre disponível a todos seus chamados. E veja bem, sou uma pessoa muito ocupada. Você não imagina quantas pessoas são tristes no mundo. Os tristes têm população dez vezes maior do que os alegres. E tenho de dar conta de todos, evitando que se martirizem; se suicidem; se joguem dos trens; se atirem do alto dos edifícios; se atirem sob as rodas dos automóveis. Na maioria das vezes consigo virar a amargura em tristeza de grau menor. Quando consigo surgem os poetas domingueiros, os escritores de fim de semana, mas mesmo assim alguns eu perco para a Dona Morte. E aí…

__ …chega, chega! Você já me convenceu. Pode ficar mais cinco minutos, até acabar a música. Mas depois vá embora que tenho muito a fazer. Olha lá. Veja se aquele piloto de avião que vai lá em cima não está ficando triste. Muda o grau de tristeza dele, se não ele joga todos no chão e não quero mais saber de tragédias por aqui.

Agora penso que já poderei ir almoçar, Dona Tristeza já se foi. A conversa foi boa, mas não estou disposto a perpetuar este estado de espírito. Prefiro virar do triste para o romântico que é o grau menor de tristeza. Nele o choro é discreto e o humor é cúmplice do humor dos outros. Românticos não têm credos, têm delicadeza, adoram jardins, estradinhas e dias azuis. Gostam mesmo é de olhar e apreciar. Bebem porque é o jeito de fazer amigos ou de se deixar estar em companhia das imagens e dos pensamentos. A saudade é companhia sempre presente. Amam amores antigos apenas pelo sabor de velejar em ondas de saudades.

Românticos são pessoas sempre a dar, um nada querendo receber em troca. Românticos podem ser totalmente egoístas com seu próprio amor. No entanto, como precisam do espelho dos seus amores, jamais os despreza. E por não quererem ficar totalmente sozinhos amam qualquer um, amam qualquer uma; sejam elas gordinhas, baixinhas, magrinhas, belinhas, feinhas; com vestido de linha, com calça comprida e umbigo de fora ou para dentro; tanto faz, ele é sempre um bom rapaz.

Pronto já não estou mais triste, apenas ligeiramente romântico. Vamos à comida.

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