quinta-feira, 21 de abril de 2011

O Poeta da Roça


– Patativa do Assaré

Sou fio das mata, cantô da mão grossa,

Trabaio na roça, de inverno e de estio

A minha chupana é tapada de barro

Só fumo cigarro de paia de mio.

Sou poeta das brenha, não faço pape

De argum menestré, ou errante canto

Que veve vagando, com sua viola,

Cantando, pachola, à procura de amo.

Na tenho sabença, pois nunca estudei,

Apenas eu sei o nome assina.

Meu pai, coitadinho! Vivia sem cobre,

E o fio do pobre não pode estuda.

Meu verso rastêro, singelo e sem graça,

Não entra na praça, no rico salão,

Meu só entra no campo e na roça,

Nas pobre paioça, da serra ao sertão.

Só canto o buliço da vida apertada,

Da lida apertada, da roça e dos eito

E às veis, rescordando a feliz mocidade,

Canto uma sôdade que mora em meu peito.

Eu canto o cabôco com suas caçada,

Nas noite assombrada que tudo apavora,

Por dentro da mata, com tanta corage

Topando a visage chamada caipora.

Eu canto o vaquêro vestido de coro,

Brigando com o tôro no mato fechado,

Que pega na ponta do brabo novio,

Ganhando lugio do dono do gado.

Eu canto o mendigo de sujo farrapo,

Coberto de trapo e mochila na mão,

Que chora pedindo o socorro dos home,

E tomba de fome, sem terra e sem pão,

E assim, sem cobiça dos cofre luzente,

Eu vivo contente e feliz com a sorte,

Morando no campo, sem vê a cidade

Cantando a verdade das coisas do Norte.


Nenhum comentário:

Postar um comentário